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A fatura de cartão de crédito com letras pequenas e termos de difícil compreensão está com os dias contados. Ao menos é o que espera o Banco Central (BC) após estudo realizado neste ano sobre estratégias de redução de endividamento das famílias brasileiras. Os resultados foram divulgados nesta quinta-feira (6).

Para o BC, pequenas mudanças na exibição de uma fatura de cartão de crédito podem ajudar a diminuir o nível de inadimplência daqueles que têm crédito à disposição. A adoção de faturas que apresentam linguagem simplificada e destaque para informações relevantes sobre as opções de pagamento tem o potencial de melhorar o entendimento sobre esse produto, incentivar melhores decisões financeiras e reduzir o índice de dívidas, diz o BC. 

O estudo ainda avalia que esses efeitos parecem ser ainda maiores para as pessoas com menor escolaridade. O órgão realizou um experimento para investigar se diferentes layouts (forma que as informações são distribuídas) de faturas de cartão melhoram o entendimento das condições de uso do produto e potencialmente afetam as decisões de pagamento da fatura total ou parcial.

EXPERIMENTO

O experimento submeteu grupos de participantes a diferentes layouts das faturas de cartão de crédito. Em seguida, eles preencheram um questionário que tratava do entendimento das faturas e de tomada de decisão. Os desenhos alternativos das faturas, em relação aos layouts de faturas de cartão de crédito existentes, permitiram testar soluções baseadas em ciências comportamentais. 

Segundo o BC, o resultado mostrou que os participantes que receberam as faturas com os novos layouts compreenderam melhor os dados apresentados e estavam mais bem informados para identificar as consequências de aceitar o crédito rotativo ou pagamento da fatura em parcelas, modalidades que tem juros maiores. 

MUDANÇA

O BC diz que, além da desatenção, a complexidade do produto, o baixo nível de letramento financeiro dos usuários e as faturas confusas são alguns dos fatores que podem resultar na utilização indesejada do crédito rotativo ou parcelamento. “Nesse sentido, a simplificação das faturas de cartão de crédito é vislumbrada como possível facilitador para melhorar o perfil de uso desse instrumento”, argumenta. 

A hipótese principal do experimento é que as informações veiculadas pelas faturas dos cartões de crédito costumam ser apresentadas de forma técnica e confusa, o que limita o entendimento do usuário e incentiva o pagamento de valores menores, aumentando o gasto com juros. 

Ao simplificar as faturas, espera-se que as pessoas entendam melhor o uso e os riscos desse produto financeiro. No estudo também foi observada uma forte influência na decisão de pagamento ao inserir um valor pré-preenchido maior na tela de pagamento da fatura, em aplicativos on-line. “Isso demonstra que, por mecanismos de ancoragem ou escolha padrão, em geral, o valor que aparece nessa caixa de resposta no momento do pagamento influencia a decisão de pagamento do consumidor”, diz o BC.

ADERÊNCIA AO CARTÃO DE CRÉDITO

O cartão de crédito é bastante utilizado no Brasil. Dados do BC apontam que, em 2021, aproximadamente 65 milhões de pessoas, quase 40% da população adulta, realizaram mais de 200 milhões de operações mensalmente. Em média, as famílias têm cerca de 30% de suas dívidas com o Sistema Financeiro Nacional (SFN) relacionadas ao cartão de crédito. 

Em nota, o órgão pontua que apesar da conveniência do uso do cartão como meio de pagamento, a utilização desatenta pode custar caro ao usuário. “Por exemplo, quando ele deixa de pagar o valor integral da fatura e, consequentemente, toma o crédito rotativo ou utiliza a opção de parcelamento. Com taxas de juros médias anuais superiores a 300%, essas modalidades de crédito são as mais caras do país e são utilizadas principalmente por pessoas com renda inferior a dois salários mínimos”, alerta. 

INADIMPLÊNCIA

O cartão de crédito é o principal responsável pelo endividamento no Brasil. Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), apontam que as dívidas no cartão atingem um total de 79% das famílias, uma taxa recorde para o país. 

Em agosto, a inadimplência apresentou oscilações, e registrou 2,8%. Nas operações de crédito livre para pessoas físicas, o endividamento está em 5,6%, e para pessoas jurídicas em 1,8%. Os inadimplentes, explica o BC, são aqueles considerados com as contas em atraso acima de 90 dias.